...uma cidade enorme de que cada um não conhece senão o seu pequeno bairro e se perde se se aventura em outro. Há milhares de linhas telefónicas, ruas largas, estreitas, becos, tudo com seus nomes. Na superfície convulcionada do terreno há apenas restos de ruínas de uma ou outra casa. A vida ali é quase só subterrânea, como a das toupeiras – A chuva impiedosa faz das ruas, regatos morrinhentos de lama repisada. Assim, de manhã, cada homem não é mais do que um embrulho enlameado. Ainda se depois destas noites sem fim, mesmo às vezes com o arraial dos very-lights encontrasse cada um, um larzinho abrigado, comida quente, cama limpa, roupa lavada!... mas a cama só às vezes para os oiciais, é uma rede sobre 4 paus. O resto é a terra húmida a verter água e às vezes sangue, e quando sobre isto quase sempre, o martírio dos parasitas e o galopar contínuo das ratazanas. A comida é fria porque qualquer floco de fumo atrairia os morteiros tremendos. É preciso deitar-se com os pés encharcados e o fato a escorrer água e lama... “
Manuel Francisco do Estanco Louro
In “Uma memória esquecida sobre a guerra de 1914-1918:
a batalha de La Lys”,
Maria Lucília Estanco e Ana Luísa Paz.