Era uma vez uma velha, muito velha, que não aceitava ser velha, passando a vida a chorar o Tempo perdido. Por mais que tentasse, as suas mãos ossudas não conseguiam segurar o maldito. Um dia, o Senhor Tempo, que sempre a acompanhava, parou um minuto e zangado, num espirro, empurrou a velha que logo desandou às arrecuas, às arrecuas, de saias no ar, ladeira abaixo, no percurso inverso da sua vida.
A pobre passou então a clamar que a vida era dura, que a comida era pouca, que os ilhos tinham fome e não iam à escola, nem tinham brinquedos, como tinham os meninos ricos. O Senhor Tempo sensibilizado, pegou na mulher ao colo, foi colocá-la no local onde a tinha encontrado e disse-lhe: vive o presente e não temas o futuro. Eu estarei esperando por ti no termo da viagem e então dançaremos a Valsa do Tempo Final.
A velha passou a sorrir, subindo alegremente o resto do monte da Vida. Um dia, serenamente, o Senhor Tempo tomou-a nos braços e ambos voaram no espaço ao som da música prometida. A velha sumiu. O Tempo continuou a sua eterna caminhada.
Glória Maria Marreiros