Arquitectura |
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Miguel Dias de Andrade, de nascimento humilde, vem ao mundo em 1835, em
S. Brás de Alportel. De jornaleiro faz-se carvoeiro e arreeiro,
calcorreando toda a serra do Algarve. Pouco depois, torna-se num opulento
almocreve, dono de várias parelhas de possantes mulas. Para o Alentejo,
entre outros produtos, transporta o peixe salgado e os trabalhos de palma
e esparto. No retorno traz o trigo e a cortiça. Por meados do século XIX assiste-se a um forte desenvolvimento do
comércio e indústria corticeiros no Algarve, nomeadamente em Silves e S.
Brás de Alportel. Miguel Dias de Andrade terá contribuído como poucos para
o desenvolvimento deste comércio, mas também soube usufruir da imensa
riqueza daí proveniente. |
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O ano de 1889, impresso nas telhas que cobrem o edifício, indicando o seu ano de fabrico, sugere a data aproximada da conclusão das obras da sua nova moradia. Por esta altura Ter-se-á mudado do sítio da Campina para a magnífica habitação que havia construído.
No decorrer das primeiras décads do século XX, a falta de meios de comunicação e a laboração artesanal levaram a outrora próspera indústria corticeira a entrar em vertiginosa decadência. Assistiu-se então à emigração dos melhores industriais para regiões mais favoráveis, como o Montijo, Alhos Vedros, Ermidas, etc, onde implantaram novas fábricas.
Em 1923, um dos descendentes do velho almocreve, Manuel Dias Sancho, instala no edifício uma Casa Bancária que não prosperou. Os tempos eram difíceis e a emigração para a Argentina e Norte de África acaba por asfixiar o jovem concelho de S. Brás de Alportel, que pelos anos 50 tinha perdido metade da sua população.
Passam os anos e Lucília Dias Sancho, neta do velho carvoeiro, habita a casa com seu marido, António Bentes. Em 1986, quando António Bentes morre, já viúvo, deixa expresso em testamento, a última vontade de sua mulher: o edifício deverá ser legado à Santa Casa da Misericórdia de S. Brás de Alportel.