7 de Julho de 1981. José da Cunha Duarte, padre
católico desce a serra do Algarve, vindo de Lisboa, numa velha camioneta da carreira. Ele, missionário nos antigos
territórios ultramarinos e conhecido pelas suas posições incómodas face ao
regime político derrubado em 25 de Abril, é colocado na serra algarvia, no
concelho de S. Brás de Alportel.
Na década de 80, S. Brás de Alportel é uma vila que
carrega o peso sufocante de décadas consecutivas de declínio populacional. As
sucessivas vagas migratórias deixam os velhos
entregues à sua sorte. A indústria corticeira, que
por finais do século XIX marcou o
momento de maior prosperidade da sua história, está cada vez mais longe.
Politicamente, vivem-se tempos difíceis, reflexo da situação geral do país. As
paixões pessoais confundem-se com o interesse público e as energias esgotam-se
em querelas estéreis.
O Padre José da Cunha Duarte
desenvolve então, a par de uma notável dinâmica religiosa, uma intensa
actividade dinamizadora no âmbito social e cultural por todo o concelho. Funda
o Centro Cultural da Paróquia, uma escola de música que é o embrião do Grupo
Juvenil de Acordionistas de S. Brás de Alportel, organiza festas, festivais e
desfiles de rua, que a pouco e pouco ajudam a transformar terra que o acolheu.
Uma das mais notáveis das
suas iniciativas, foi a fundação da Casa da Cultura António Bentes que originou
o Museu Etnográfico do Trajo Algarvio. A sua veia coleccionista leva-o a juntar
um imenso espólio etnográfico que a partir de 1982 começa a ser divulgado em
exposições cada vez mais elaboradas. Regressado a S. Brás de Alportel depois de
alguns anos de ausência, o Padre José da Cunha Duarte, vive intensamente a vida
do “seu” museu, trabalhando actualmente na investigação das raízes provençais
na etnomusicologia da nossa região, tendo passado boa parte dos anos de 1997 e
1998 em arquivos e bibliotecas francesas.